EXTEMPORANEIDADE
Eu queria ter te encontrado na idade da pedra lascada:
ambos livres, sem rumos, sem preconceitos, sem leis;
eu despenteado, livre pelas montanhas;
tu despida, de cabelos soltos ao vento, bronzeada…
Seríamos dois amantes eternos amando o que Deus fez!
Ah! Eu queria ter te encontrado na idade da pedra lascada,
numa noite chuvosa, entre arvoredos, flores,
relâmpagos e trovões!
Tu correrias para meus braços, te entregarias
desprotegida, assustada.
Seríamos um só corpo com dois corações!
Eu queria ter te encontrado em outra era, em outro espaço,
Onde houvesse paz,
cantos de pássaros na música do silêncio;
onde teus passos seguissem meus passos,
num mesmo compasso,
numa felicidade que durasse milênios!
Mas nos encontramos com mil séculos de atraso.
O relógio do tempo impossibilitou nossa união,
e por isso,
as mágoas que agora extravaso
substituíram nosso amor de mil séculos Antes de Cristo!
Nos encontramos no século vinte, poluído, neurotizado.
Nossos caminhos se alongando em paralelo ao infinito.
Eu te olhando e sentindo um desejo desesperado,
porque tu és aristocrática e eu sou maldito!
JANELA COLONIAL
Te vi,
como uma pintura viva
do pintor parapsicológico que não pude ser,
numa tarde tropical
enchendo o quadro da janela colonial
de um velho casarão,
numa rua estreita são-luisense.
E te vendo assim
Parece que já te conhecia,
quando eu era Neandertal
quando construí as pirâmides do Egito,
ou nos meus tempos de Babilônia,
quem sabe num bucólico castelo medieval;
talvez nas minhas noites de insônia…
Sei que te vi,
tão linda, no quadro daquela janela,
e todas as épocas em que vivi
encheram-me o coração.
Agora, como pesa em minha alma
São Luís inteira
só por causa desta visão!
COMENTÁRIOS
“A poesia, tantas vezes vítima de anêmicos brincalhões da palavra, que a confundem com o frio esquematismo das soluções matemáticas, precisa mesmo do calor dos que sabem se dar com amor assim como sabem extrair da vida o amor que ela a todo o instante nos dá.
Sua poesia é movida por essa força e por esse sangue que o individua como homem no mundo. E, ao mesmo tempo, o torna sensível diante do sofrimento que o cerca na sociedade, diante da fome das crianças e diante da ameaça que pesa sobre toda a humanidade face
aos sinais estarrecedores do apocalipse nuclear.
Seus livros comovem, e fazem pensar.”
Manoel Caetano Bandeira de Meio
Da A.M.L. Resid. Rio de Janeiro
“Já o conhecia através das vozes eloqüentes e testemunhais de meu querido Nauro Machado, Carlos
Cunha, Cunha Santos Filho, Roberto Kenard, João do Vale, Viegas Neto e Jomar Moraes.
Êta! Você é poeta mesmo. Mas não desses que botam ariris e bandeirinhas no terreiro.
São excelentes e oportunos os seus volumes de poesia.”
Antônio de Oliveira,
De A.M.L. Resid.Brasília.
Indiferente a modismos e alheio a grupos ou movimentos literários, Alex Brasil cumpre, com determinação, o seu percurso expressional.
Ao contrário de lutar pelo reconhecimento e pela rotulação de sua obra, Alex Brasil prosseguem realizando-a, de conformidade com sua visão de mundo.
Uma visão que não compreende profundas reflexões filosóficas, mas privilegia graves perplexidades da hora que passa, do momento presente que se faz história com a nossa efetiva participação especial.
Alex Brasil faz de sua poesia um testemunho vivo das emoções que o inquietam, compondo, através dos livros que vai publicando, o registro de quem está na guerra, não para fazê-la, mas para sobre ela opinar.
É trabalho válido, feito de matéria circunstancial.
Por isso mesmo, carregado das pequenas emoções que representam o protesto de alguém preocupado com o profundo sentido da vida.
Jomar Moraes
Presidente da A. M.L