SÓ SE VÊ BEM COM O CORAÇÃO

O filósofo sofista Górgias, que viveu na antiga Grécia, quatrocentos e oitenta e cinco anos antes de Cristo, dizia que a verdade é relativa. Dizia o filósofo que o dono da verdade seria aquele que tivesse o melhor argumento para provar suas ideias ou pontos de vista.

Era uma questão de talento para convencer, persuadir, impor sua verdade à plateia, aos outros (o que nos lembra, hoje, a propaganda, com suas técnicas de comunicação persuasiva). Lembro aqui Górgias, por que, de fato, com a revolução digital, no imenso lixeiro de ideias que é a internet, milhões de imbecis passaram a ter vozes; e cada imbecil se acha o dono da verdade (eu, por exemplo, aí incluído entre tantos imbecis, até prova em contrário, tentando impor a minha pretensa verdade).

Ora, quantas e quantas vezes não vemos, aqui, nas redes sociais, alguém chamando o outro de analfabeto com seu texto cheio de erros gramaticais, não sabendo que o português é tão complicado que bota se calça, e calça se bota.

Lembro Górgias, com seus sofismas, porque nessa ânsia de nos acharmos donos da verdade em tudo, estamos cada vez mais nos ferindo, nos odiando, nos matando, à direita, à esquerda, em todas as direções, sem que ninguém seja, de fato, o dono absoluto da verdade.

Lembro do filósofo Górgias e seus sofismas para lembrar a todos nós (nos matando em nossas arrogâncias de superioridade) a simples verdade, talvez insofismável de Exupéry, na voz do Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível para os olhos. Só se vê bem com o coração.” Só um imbecil não percebe isso, não compartilha essa simples verdade.

Flávio Dino: Esperando Godot?

Esperando Godot, obra máxima do teatro do absurdo, escrita pelo irlandês Samuel Beckett não conta uma história, ao contrário, explora uma situação estática. O lugar é deserto, sem cor. … Dois velhos vagabundos, Vladimir e Estragon estão esperando Godot, que pode ser Deus ou qualquer coisa que angustiantemente nunca chega. Com isso, procuram preencher o tempo da espera dialogando até a exaustão, pois nessa espera está todo o sentido de suas vidas.

Pois bem, a propósito do dilema em que vive o governador Flávio Dino, na sua atual solidão de poder, num cenário desértico de uma encruzilhada shakesperiana, que pode definir seu futuro político e do seu grupo em tensão existencial, é bem apropriada essa analogia entre a angústia do governador e a dos personagens do irlandês Samuel Beckett, analogia um tanto intelectualizada, mas também aí, pertinente às reflexões do governador Flávio Dino, que brevemente entrará para a Academia Maranhense de Letras.

Dito isto, é aconselhável que o governador Flávio Dino releia (pressupondo que já tenha lido) Esperando Godot, essa obra exemplar para esses momentos de ser ou não ser do seu atual palco político num cenário nebuloso, onde o tempo de espera pode já não existir mais e só desespera.

Depois, como uma águia experiente, dá uma olhada de trezentos e sessenta graus na planície e no planalto, conversa com Geraldo Vandré, que “esperar não é saber…” e vai de Maquiavel: “O príncipe deve ter o rugido do leão para espantar os lobos, e a esperteza da raposa para não cair em armadilhas.”

Uma hora o governador vai ter que dar um murro na mesa, no momento certo, pelo motivo certo, com a pessoa certa, como sugere a inteligência emocional. Esse momento já passou? Ou ainda há esperança em continuar Esperando Godot?

PARCERIA FLÁVIO X BRAIDE: ADVERSÁRIOS NÃO MANDAM FLORES

Praticamente a um ano das eleições, a corrida eleitoral já em andamento, todos pintados pra guerra, e ainda lambendo as feridas da recente batalha municipal, falar altruiscamente em parcerias entre os antagonistas governador Flávio Dino e o prefeito Eduardo Braide, soa, no mínimo, paradoxal. Os adversários não mandam flores. E nesse cenário de beligerância o que mais se ouve é canto de sereia, e qualquer presente é de grego.

Resta, então, análises frias sobre essa tentativa de diálogo entre os Leões e La Ravardière. Em primeiro lugar, só um inocente não sabe que o prefeito Eduardo Braide possui legítimas chances de participar, também, dessa corrida eleitoral, impulsionado pelo mesmo engajamento popular que o levou, sem recursos e conchavos, à prefeitura de São Luís. Nada inédito, bastando lembrar a trajetória de João Dória em São Paulo.

Então, no mínimo, fiel da balança nessa disputa intestina nos bastidores do governo Dino, o prefeito Eduardo Braide é, por todos os ângulos, uma noiva cobiçada, capaz de decidir sobre quem fica ou sai do trono leonino, ele próprio podendo quebrar a ordem até agora posta no tabuleiro.

A essa altura do campeonato eleitoral, o campo minado, qualquer lance pede reflexão, qualquer passo ou passe pode decidir o jogo. Não trata-se, portanto, de uma parceria qualquer, como limpar a Praça D. Pedro II ou embelezar a ponte José Sarney. Ou é um abraço de tamanduá pra um lado ou para o outro, ou um gol de placa para quem está mirando o ângulo que nem o goleiro está vendo. Nesse jogo de esconde-esconde, só não pode dar é um a um, e bola na trave não altera o placar.

Alex Brasil

Traição Anunciada

Eliziane declara apoio para Weverton governador, e para Flávio Dino senador. Isso é emparedar o Dino e enfiar Weverton goela abaixo no governador. Weverton é traição anunciada, já provou ontem nas eleições municipais e será amanhã. Quando Eliziane vem com essa ideia, ela própria já está no barco da traição.