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Sarney e o Poeminha do Contra
A escritora Arlete Nogueira da Cruz Machado e eu estivemos com o ex-presidente José Sarney, em seu apartamento, na Ponta d’Areia. A manhã do dia três de abril estava iluminada e dava pra ver no horizonte trinta navios repousando na Baía de São Marcos, lembrando os barquinhos da infância, agora, ali, na calma poesia da sempre São Luís, Ilha do Amor.
Fiquei impressionado com o poeta, escritor, político e intelectual José Sarney, não pela sua genialidade múltipla, que já conheço e acompanho há décadas; mas pela sua vitalidade, lucidez, senso de humor e entusiasmo pela vida, tudo isso próximo dos seus oitenta e oito anos de idade. O Sarney morrível, parecia traduzir nos olhos vibrantes de um poeta sonhador, a imortalidade daqueles que imprimem na humanidade um rastro indelével e inesquecível. Para contrariedade dos que o invejam e para admiração dos que o respeitam e o amam.
Arlete, Sarney e eu, não falamos de política, de poder, de ingratidão, de traição, de ódio, de intolerância… Falamos de literatura somente, como três poetas iniciantes, contemplando e ainda estudando as metáforas do horizonte atlântico e profundo da Baía de São Marcos.
Mas, naquele instante, inadvertidamente, não pude deixar de lembrar, olhando o semblante sábio do decano poeta Sarney, o que dissera o também poeta Mário Quinta sobre a imortalidade e a incompreensão dos que não deixarão rastro na história humana: “Todos esses que aí estão/Atravancando o meu caminho,/Eles passarão…/Eu passarinho!”