PLANETA VERMELHO

EXTEMPORANEIDADE

 

Eu queria ter te encontrado na idade da pedra lascada:
ambos livres, sem rumos, sem preconceitos, sem leis;
eu despenteado, livre pelas montanhas;
tu despida, de cabelos soltos ao vento, bronzeada…
Seríamos dois amantes eternos amando o que Deus fez!

Ah! Eu queria ter te encontrado na idade da pedra lascada,
numa noite chuvosa, entre arvoredos, flores,
relâmpagos e trovões!
Tu correrias para meus braços, te entregarias
desprotegida, assustada.
Seríamos um só corpo com dois corações!

Eu queria ter te encontrado em outra era, em outro espaço,
Onde houvesse paz,
cantos de pássaros na música do silêncio;
onde teus passos seguissem meus passos,
num mesmo compasso,
numa felicidade que durasse milênios!

Mas nos encontramos com mil séculos de atraso.
O relógio do tempo impossibilitou nossa união,
e por isso,
as mágoas que agora extravaso
substituíram nosso amor de mil séculos Antes de Cristo!

Nos encontramos no século vinte, poluído, neurotizado.
Nossos caminhos se alongando em paralelo ao infinito.
Eu te olhando e sentindo um desejo desesperado,
porque tu és aristocrática e eu sou maldito!

 


 

M(EU) VELHO

 

Meu velho,
Tu que já brincastes pela manhã da inocência,
que já suaste no labutar do meio-dia,
e que agora andas curvado
sob o peso da existência
no entardecer da esperança e da alegria,
diga-me, meu velho, o que me aguarda a vida?

Caminhos de pedra?
Estrada sem chegada?
Luta sem vitória?
Amor sem amada?
Sacrifício em vão pela paz?
Espera inútil pela terra prometida?
Castigos por sonhar e falar demais?

Meu velho,
se assim o for; eu viver essa profecia infernal,
deixai-me sem saber do futuro,
deixai-me sonhar ainda, enquanto não chega
o desígnio fatal,
com seios palpitantes e quentes de adolescentes,
de mulheres morenas, louras, mulatas e crioulas.
Deixai-me iludir-me como sorriso
Que espero gargalhar;
Deixai-me pensar que vou vencer,
que vou modificar,
que vou chegar
que serei amado,
que serei aplaudido…

Meu velho,
eu queria saber, mas tenho medo,
como de meus amigos pelos quais já fui traído,
se meu caminho será de pedras ou de flores;
se meu entardecer será como o teu
que agora vejo:
cansado no corpo e n’alma sofrido,
sem seios de jovens adolescentes
sob as mãos velhas,
querendo vida, querendo amores.
Meu velho, não fale nada!
Mergulhe nas sombras da escuridão,
me espere n outro lado da estrada
depois que também meu sol
de angústia ou de dor
abandonar-me na morte
sem seios de adolescentes
e sem apoio de bastão!