Ezra Pound, considerado por muitos o Einstein da poesia universal, foi também um crítico literário genial e definiu literatura como sendo linguagem carregada de significados até o máximo grau possível, uma novidade que permanece novidade, uma juventude eterna e irreprimível.
Pois bem, a propósito dessa arguta observação do ensaísta Pound, quem lê O tormento de Santiago, o mais recente lançamento do poeta e escritor Lourival Serejo, não passa incólume a essa sensação de que estamos diante de um autor e obra em simbiose em todos os níveis de exigências estéticas-literárias, sem o mofo do modismo e do supérfluo.
Lourival Serejo, ele próprio de personalidade contida, beirando a timidez; a partir de um enredo minimalista, uma narrativa asséptica e uma descrição precisa (quase caricatural), constrói seu romance (ou novela, considerando-se o número de páginas) numa lâmina de tensão que faz o leitor pensar e deleitar-se pela urdidura do tema e pela forma exata do fazer literário.
É interessante notar em O tormento de Santiago, para além da ótima engenharia ou engenhosidade do Lourival Serejo em alinhavar os planos narrativos, descritivos e atorais, dando vida coerente ao mundo ficcional de sua obra (ou não, por indícios autobiográficos), que subjacentemente, no fluir da estória, nos deparamos com uma galeria de personagens riquíssimos em simbologias sobre o homem imperfeito na relação com o outro homem. São os juízes, dos quais, um julgará Santiago pelo seu crime.
Nessa confluência entre o tormento propriamente dito do personagem Santiago na expectativa de sua condenação ou castigo, com toda sua carga psicológica (outro fio condutor que o autor esgrima com mestria) e os tipos de magistrados, cirurgicamente desenhados por Lourival Serejo, o romance atinge sua densidade qualitativa admirável.
Constatamos, então, a partir desses planos (personagens, narrativa e descrição) em perfeita conexão, o exímio prosador Lourival Serejo a revelar-se em todo o seu talento literário sempre em evolução no panorama de nossa literatura de relevância nacional. Lourival revela-se um escritor com capacidade de síntese, imaginativo e inventivo, tecendo a linguagem em consonância com sua sólida cultura literária sutilmente expressa na intertextualidade da sua engenhosidade romanesca ou prosaica.
Portanto, em O tormento de Santiago, sob as habilidades e técnicas do competente e talentoso Lourival Serejo, sem detrimento da síntese, nos deparamos com múltiplas perspectivas de um romance multifacetado. Na abordagem existencialista e psicológica do protagonista Santiago, introspectando o seu crime e se angustiando com a espera da sua condenação, e por fim aceitando qualquer pena como redenção de sua culpa. Na impressão de que a obra é policial, cujo investigador é o leitor, querendo saber qual o imperdoável crime do personagem e qual castigo ele merece. Num certo niilismo e realismo, por paradoxal que seja, na construção dos perfis dos juízes em que o autor atinge o seu paroxismo descritivo, modelando tipos de personalidades, provavelmente existentes à sua volta, já que Serejo é um magistrado; e aí está um dos pontos relevantes do romance. Na intertextualidade da narrativa que nos remete subliminarmente a grandes autores a exemplo de Dostoiévski, Kafka ou John Grisham. Na construção de um romance aberto em que, no final, a imaginação do leitor fica em suspense…
Enfim, para os leitores, mesmos os mais distraídos, ao final de O tormento de Santigo, fica indelevelmente em seu cérebro uma multiplicidade de impressões sobre esse instigante romance de Lourival Serejo, cada vez mais depurado como escritor consciente do seu ofício, confirmando Ezra Pound quando diz que literatura permanente é aquela, cuja linguagem está carregada de significados.
Alex Brasil