MENINO ABANDONADO
Ele me estende a mão,
pede uma esmola,
e eu digo NÃO.
Seu olhar, com o brilho, me esfola,
mas recua assustado.
Sigo em frente, com a consciência limpa,
sem vazio no bolso, muito menos na barriga.
Aí ele fica, para trás fica o menino abandonado,
querendo ser grande, debatendo-se contra a vida.
Um dia, eu sei, mas hoje não quero saber,
nos reencontraremos em outra ocasião.
Pronto para matar ou morrer,
de arma em punho ele exigirá: “dê-me tudo ou a vida”,
e eu, esvaziarei os bolsos sem poder dizer NÃO.
Ficarei ali, abandonado, com a consciência suja,
um pouco responsável por aquela cena –
crua e nua vivida.
HOMEM FERA
Os homens que matam e odeiam
um dia foram indefesas crianças
precisando de mãos
para as mesmas mãos que agora incendeiam
a inocência, a flor, outras infâncias…
O homem que assassina um menino
feito um bicho devorador,
outrora tinha medo do corte mais fino,
temia uma simples flor;
sorria para a vida
um sorriso manso, um olhar divino.
Esse homem,
que agora a inocência dilacera,
como transformou
a sua própria infância
em tamanha fera,
desapercebida de que na velhice
tornará a ser criança!?
DEDICAÇÃO
Dedico este livro aos meus amigos de infância: aos que morreram de fome, os que não aprenderam a ler, os que ainda vivem na miséria do povoado onde nasci…
Dedico este livro às crianças pobres de São Luís, como a criança da foto, carentes de pão e amor.
Dedico este livro ao amigo Fernando Sarney, que viabilizou esta minha declaração de amor à São Luís dos pobres e deserdados, que apesar da miséria, persistem em viver em São Luís.