O SONHO DEVE CONTINUAR

NUNCA MAIS

 

Nunca mais !
Tu disseste nunca mais !
E eu concordei, no fundo da alma;
eternamente nunca mais
sem um beijo de despedida,
sem um aperto de mão,
sem esperança de retorno.
Não !
Tu disseste não !
Não e nunca mais.
Compactuamos exilar-nos um do outro,
exílio sem retorno
sem reacordo
exílio eterno que continuará
morte além.
E que deserto se abriu entre nós !
Que infinita distância devemos
percorrer a partir de agora,
tua imagem se distanciando para o norte
e a minha silhueta rumando para o sul,
um de costas para o outro,
sem recuo,
nesse distanciar inflexivelmente
progressivo, que continua além da morte !
Meu adeus tu já não ouves.
Não e nunca mais ecoa dentro de ti,
enquanto o vento apaga nossos passos
na areia desse imenso deserto-vida.
E não nos veremos mais, calaremos a voz.
Nos perderemos um do outro
em distâncias que se alongarão
sempre e sempre em oposição.
Nunca mais ! Ecoa em mim.
Não e nunca mais ecoa em nós,
Pelos séculos e séculos sem fim !

 


 

ECÓLOGICO

As árvores, com flores e frutos, não faltarão para você
Que vive agora.
Ainda existe muito verde na face da terra,
Para todo mundo brincar com a esperança.
Você não morrerá de fome por falta de alimento.
Ainda existem muitos animais
Para você se divertir com tanta matança.
Você não morrerá de sede por falta de água potável;
ainda existem bilhões de litros
para você despejar o veneno de suas fábricas.
Você não destruirá toda a natureza,
pois as reservas existentes
são mais duradouras
que seu efêmero tempo de vida,
na face do planeta.
Mas seu filho, seu neto,
o futuro da humanidade
morrerão por falta de oxigênio,
morrerão de sede e de fome,
se você viver o presente
pensando só em você,
de maneira tão egoística,
aqui, agora, pensando só no momento,
sem olhar com o coração
os homens que ainda virão.
Por favor, viva o presente, respeitando a natureza,
como se no futuro você ainda fosse nascer,
Pois o futuro somos nós,
renascendo em nossos filhos,
em nossos netos

 


COMENTÁRIO (NAURO MACHADO)

Na ambição de um corpo-a-corpo travado com a realidade da época, a poesia de Alex Brasil se forja e arma de uma consciência jamais dissociada, por força de um compromisso humano, do cutelo e das metáforas a que não faltam o fazer formal e o saber social.

Irmanados assim a ação e o verbo, a contemplação e a denúncia, o testemunho e o desdobrar-se desse testemunho lírico, em imagens límpidas e fluentes, embora solapadas por uma concretidade rude e cruel, como cruel e rude é o mundo de hoje, na latitude que nos coube, só têm a lucrar a nova poesia maranhense e a hora continua a reafirmar esse saber mais alto da nossa história como indivíduo e Povo. Alex Brasil, mais coerente que tantos outros, despistadores do real e trânsfugas da vocação , sabe que, contra todas as investidas da técnica alienante e da mecânica (ir)racional, a poesia deve continuar.